quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Celular na plateia

Plateia lotada no Hotel Mofarrej em São Paulo. A ONG Via de Acesso, da qual sou presidente, realizava um de seus eventos mais importantes. Havia enorme expectativa para a palestra do presidente da Vivo, Roberto Lima. Sua apresentação foi feita com a pompa merecida. Claudia, a mestre de cerimônias, caprichou nos detalhes e, lógico, não se esqueceu de pedir a todos que desligassem os celulares. 
Roberto Lima foi aplaudido com entusiasmo assim que chegou ao palco. Afinal, um dos executivos mais bem-sucedidos do país iria falar sobre carreira, tema que interessava a todos. Saboreou aquele momento com satisfação, cumprimentou os ouvintes e numa tirada espetacular emendou: peço a todos que não desliguem o celular.
A plateia entendeu a brincadeira e caiu na gargalhada. Afinal, o presidente da Vivo queria mais que todos usassem o telefone. Durante a palestra, em meio a uma pausa silenciosa, tocou um celular. Com o mesmo sorriso triunfal que demonstrou na chegada, o palestrante olhou com jeito maroto na direção do ouvinte, como se fossem cúmplices, e o público voltou a rir diante do seu humor sutil e inteligente.
Já promovemos mais de uma centena de palestras com os conferencistas de maior relevância em todo país, mas ainda hoje quando converso com Ruy Leal, superintendente da ONG, nos referimos àquele momento como um dos mais marcantes protagonizado por um orador. 
O palestrante conquistou os ouvintes, com sua simpatia, inibiu que usassem o celular e empregou uma das técnicas mais preciosas da comunicação ao estabelecer interdependência perfeita entre a circunstância nascida no próprio ambiente e o tema da palestra.
Garimpo histórias como essa para montar um repertório que me ajude a enfrentar a presença cada vez mais acentuada dos telefones celulares em aulas e palestras. Como falo em público todos os dias, normalmente três vezes diante de plateias diferentes no mesmo dia, fiz todos os testes e adotei as histórias como arma predileta para essas situações. Por isso, tenho sempre uma na manga.

Nunca critico o dono do celular. Prefiro contar uma história para tentar me aproximar ainda mais do público. Por exemplo, quando toca o celular eu comento que acho curioso a reação dos ouvintes. E emendo -o quadro é mais ou menos este: a pessoa olha do lado com cara de censura. Depois de algum tempo percebe que o celular que está tocando é o dela.
Se for uma mulher abre a bolsa tentando encontrar o aparelho. A situação piora porque com a bolsa aberta o barulho é ainda mais intenso. O mais grave da situação é que o objeto que ela procura é quase sempre o último a ser encontrado. Por isso, meu amigo Gretz diz que as bolsas deveriam ter zíper por baixo.
Bastaria abrir esse zíper e o objeto seria localizado mais facilmente. As pessoas riem e o dono do celular imediatamente desliga o aparelho. Sem provocar contrariedade, o problema não apenas é resolvido como também passa a existir maior interação com o público.
Portanto, nada de agir como alguns que chegam a parar a apresentação para repreender a pessoa que deixou tocar o celular. Estragam o desenvolvimento da mensagem, fazem papel antipático e só agravam a situação. Pegue leve, brinque com os ouvintes.
Assim, sem humilhar ninguém você demonstra simpatia, presença de espírito, bom humor e sutilmente dá o recado para que os outros desliguem seus aparelhos. E se um ouvinte não se tocar e deixar o aparelho ligado, sempre aparecerá alguém para fazer o psiu.
Reinaldo Polito

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